sexta-feira, 31 de julho de 2009


A MORTE DE D. PEDRO II

O exílio do imperador, provavelmente lhe abreviou a vida. Isolado, com poucos recursos, vivendo modestamente em hotéis, passou D. Pedro II, só tendo o consolo de seus livros e dos poucos amigos que ainda lhe eram fiéis.
O conde Afonso Celso, em visita que fez a D. Pedro II, nos relata a tristeza do imperador em seu exílio, lamentando-se que ninguém lhe escrevia, não se interessavam como estava passando.
Em visita ao escritor Camilo Castelo Branco, que já estava cego, D. Pedro II lhe disse:
“ –Console-se meu Camilo. Há de voltar a ter vista.
-Meu Senhor, a cegueira é a antecâmara de minha sepultura.
-Perdi o trono, Camilo, e estou exilado. Não voltar a Pátria é viver penando.
-Resigne-se Vossa Majestade. Tem Luz nos seus olhos.
-Sim, meu Camilo, mas falta-me o sol de lá.”
Em 1891, D. Pedro II foi viver em um modesto quarto em um hotel de Paris. Levou com ele um pequeno travesseiro com terra brasileira, afirmando que queria ser enterrado com ela. Sentido a morte próxima pediu o travesseiro e com ele exalou o último suspiro
“Nunca me esqueci do Brasil. Morro pensando nele. Que Deus o proteja.”
Morreu D. Pedro II, modestamente, no silêncio do seu exílio. Desamparado do Brasil que tanto amara. Poucos eram seus recursos financeiros. Reflita o leitor sobre este aspecto, e compare-o com os ex-presidentes que foram proscritos de seus paises. Estes últimos viveram em seus exílios como verdadeiros nababos, usufruindo descaradamente tudo aquilo que roubaram do povo em seus anos de governos. Quanta diferença!
O governo republicano Brasileiro não quis participar das homenagens que a França fez a D. Pedtro II em seus funerais.
As homenagens que o presidente da França Sadi Carnot, fez por ocasião das exéquias do imperador deposto do Brasil desagradaram ao governo Brasileiro.
Os funererais de D. Pedro II atraíram uma multidão de pessoas que vinham lhe prestar as últimas homenagens. Enviados de todas as nações compareceram á fúnebre cerimônia.
No dia 9 de dezembro de 1891, muito cedo, apesar da chuva incessante e do vento frio, verdadeira multidão começou a ocupar a Praça da Madaleine. Os correspondentes dos jornais Daily Telegraph e do Dauily Mail escreveram que havia tanta gente nos funerais de D. Pedro II quanto nos de Victor Hugo.
Só se notou a ausência de um representante do governo brasileiro. O Brasil oficial negou-se a tomar parte das homenagens ao velho imperador.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

D. Teresa Cristina: A tristeza da partida


D. TERESA CRISTINA: A TRISTEZA DA PARTIDA

Um exemplo claro de que a alma popular era francamente favorável a monarquia e ao Imperador, pode ser verificado nos lamentáveis episódios imediatamente após o dia 15 de novembro.
Durante todo o dia 16 de novembro a Família Imperial ficou detida no paço da cidade. Por volta de três horas da tarde, ouviu-se o estrépito de patas de cavalo, Era um esquadrão da cavalaria. Liderado pelo Major Sólon, este subiu as escadas do palácio com um mensagem para o imperador. Foi introduzido no Salão chamado das Damas, onde se encontrava a família imperial. Era o comunicado do Governo Provisório da República, notificando o imperador de sua destituição, e lhe dando um prazo de 24 horas para deixar o país.
Mas os republicanos temiam que o povo, que vendo o imperador e sua família sendo humilhados pelas ruas do Rio se rebelassem. Resolveram que o a Família Imperial deveria embarcar de madrugada, às escondidas, na calada da noite.
D. Pedro II protestou dizendo:
“ Que é isto? Então vou embarcar a esta hora da noite?
Assim exige o governo.
“Que governo? Indagou D. Pedro II
O Governo da República
Deodoro está metido nisso?
Está, sim senhor? Ele é o chefe do governo.
Então estão todos malucos! Rematou o Imperador”
Depois de protestar contra o adiantamento da hora da partida dizendo que não era nenhum fugido, para embarcar àquela hora da madrugada, clandestinamente, consentiu afinal em submeter-se à imposição do governo provisório, sobretudo para evitar possíveis conflitos ou derramamento de sangue.
D. Teresa Cristina, a Imperatriz do Brasil, que sempre tivera uma postura digna e reservada diante de assuntos políticos, chorava convulsamente no momento da partida forçada. Afirmaria ao Barão de Jaceguai que a tentava consolar, pedindo-lhe resignação
“Tenho-a e muito. Mas a resignação não impede as lágrimas. E como deixar de verte-las, ao sair desta minha terra, que nunca mais hei de ver.”
As condições humilhantes a que foram submetidos a família imperial brasileira, provam o total despreparo, a incapacidade, e o desrespeito a nação brasileira pelos homens que usurparam o poder e proclamaram a República.
D. Teresa Cristina não resistindo as atribulações das últimas semanas, acabou por falecer no exílio em Portugal. Nos seus últimos instantes, ainda confidenciou à Baronesa de Japurá:
“Maria Isabel, eu não morro de doença. Morro de dor e desgosto.”

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O Imperador era mais acessível




O
IMPERADOR ERA MAIS ACESSÍVEL




Neste ano de 2007 em que escrevo estas linhas aconteceu um episódio muito esclarecedor sobre o tópico acima. Um homem simples vindo do nordeste, gastara todas as suas economias para chegar a Brasília e poder falar com o presidente da República. O pobre homem se dirige ao palácio do planalto e ingenuamente pede para falar com a autoridade máxima da República. Aconselhado a deixar o local o homem se desespera, viajara tanto para expor seus problemas e agora era barrado sem ao menos poder entrar no palácio. O problema se prolongara e o homem não parecia querer ir embora. A televisão chega. O Brasil vê a agonia de um cidadão que jogado no chão pede e grita que quer falar com o presidente da República. Finalmente o homem e detido e levado para exames psicológicos. Conclusão : a chefia máxima da República é tão inacessível ao cidadão comum, que qualquer um que tente falar diretamente com o presidente da República é tido como louco e portanto deve ser internado.
A questão na inacessibilidade presidencial pode ser verificada quando os chefes republicanos se vêem obrigados por qualquer motivo a passarem, mesmo que de longe pelo povo. Uma verdadeira operação de guerra é montada para proteger e isolar o presidente. Ai daquele que tentar se aproximar.
No tempo do império era diferente. Todo mundo, sem exceção, podia ser facilmente admitido à presença do imperador, não se exigindo vestimentas nem autorizações especiais para tal. Bastava apresentar-se no Paço, dizer o nome que era escrito num grande livro, e penetrar naquelas salas abertas. Um cronista da época dizia:
“ Cada um pode apresentar-se como quiser, de casaca, de uniforme, de blusa, de roupa de trabalho; nem por isso deixa de ser recebido por Sua Majestade. O mais humilde negro, em chinelos ou pés descalços, pode falar ao Soberano.”
O Conselheiro Nuno de Andrade descreveu uma audiência do Imperador;
“ Às cinco horas em ponto desci do tílburi, junto á portinha baixa onde uma sentinela cochilava. Não se pedia licença para entrar. Tomei a escada da direita, e fui ter a um longo salão retangular quase sem móveis, com grandes quadros nas paredes. O Freire, criado da casa, meu conhecido, disse-me:
-O Imperador não tarda.
Cerca de quinze pessoas esperavam D. Pedro II, e entre elas um preto vestido de brim pardo, sem gravata, com uns grandes sapatos muito bem engraxados. Despreendia-se do lustro do calçado que o preto cuidara de parecer asseado; e, como era idoso, a intenção traduzia certa altivez nativa. Tinha ido a pé e sentia-se cansado, por isso sentara-se no chão da galeria. O Pederneiras, com sua barba branca, chegou-se a mim, indicou o preto e disse filosoficamente:
-Ainda querem mais liberdade nesta terra...
Instintivamente olhamos para as portas, constantemente abertas a todos os brasileiros.
O Imperador apareceu no extremo da galeria, e o preto lavantou-se. Seria o primeiro a falar ao soberano, e ninguém se lembrou de lhe disputar a precedência. O Imperador lhe perguntou:
-Então, como está? Que é que temos?
-Estou bom, sim senhor. E vosmecê? Eu venho dizer a vosmecê que fui voluntário na guerra do Paraguai. Na batalha fiquei com um braço ferido por bala. Curei-me e continuei até o fim de tudo. Depois voltei e cai no meu ofício de empalhador. Há um ano adoeci do fígado, e o Dr. Miranda, na Santa Casa, me fez uma operação. Nunca mais tive saúde. Agora não posso mais trabalhar no ofício, e não tenho vintém para comprar farinha. Na secretaria do império há falta de servente. E eu fui falar com o ministro. Mas o ministro não fala com toda a gente. Estão lá uns mulatinhos pernósticos, que me dizem sempre:
-Você espere. Eu espero, sim senhor: e depois os mulatinhos me mandam embora, porque o ministro não recebe mais ninguém. Já três vezes isso me aconteceu. Então fiquei zangado e pensei assim: vou falar ao Imperador, que é nosso pai: ele não manda a gente embora. Ora, pois, eu queria que vosmecê me desse um bilhetinho para o ministro...
O Imperador chamou o general Miranda Reis, que então o acompanhava, e disse-lhe algumas palavras. Voltando ao preto exprimiu-se assim:
-Vá com Deus. Fico sendo seu procurador, e tratarei do seu negócio.”

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Baile da Ilha Fiscal

Baile da ilha fiscal, os republicanos
distorceram os fatos em seu proveito.


ESCLARECENDO FATOS




Outra fanfarronada que os republicanos adoram espalhar por ai, é que no Império havia grandes despesas com festas suntuosas e gastos desnecessários com luxos e riquezas.
Particularmente o império brasileiro era bastante parcimonioso no tocante a grandes festas oficiais. Consta-se que D. Pedro II tenha oferecido três grandes festas em sua vida: a de sua aclamação, a de seu casamento e a da ilha fiscal. Esse baile da Ilha fiscal foi usado ad nauseam pelos republicanos como exemplo de esbajamentos do período imperial.
A chegada ao Rio de Janeiro de um navio da Marinha chilena, o encouraçado Almirante Cochrane, ensejou diversas solenidades para homenagear a oficialidade chilena. Estavam em jogo importantes interesses diplomáticos.
O Chile vencera o Peru e a Bolívia na guerra do Pacífico (1879-83), anexando o deserto do Atacama, rico em depósitos de nitratos. Esta política de expansão chilena vinha sendo duramente contestada pela Argentina, que por sua vez tencionava alargar suas fronteiras do lado brasileiro, reivindicando a posse da região de Palmas, no oeste do Paraná e Santa Catarina.
Assim,os oficiais chilenos serviam de pretexto para o governo imperial passar um recado ao governo argentino, de que a aproximação entre o Brasil e o Chile, representava uma nova composição de forças entre os paises sul americanos.
As homenagens teriam seu ponto alto em um baile na ilha fiscal programado para o dia 19 de outubro de 1889. Com a morte de D. Luís I, rei de Portugal, o baile foi adiado para o dia 9 de novembro. Calcula-se que quatro mil pessoas circularam pelos seis salões de dança, decorados com flores, onde se sobressaiam as cores das bandeiras do Brasil e do Chile.
O bufê, encomendado à tradicional Confeitaria Paschoal, na rua do Ouvidor, ocupava um pavilhão especial. Estava disposto em duas mesas enormes, com peças inteiras de caça e pesca. A festa só terminaria as cinco da manhã com uma grande queima de fogos.
Os republicanos não se cansam de explorar a suntuosidade do baile da ilha fiscal, e tomam-no como exemplo do desperdício e suntuosidades do império. Fazem crer que o comedido D. Pedro II fosse como um Luiz XIV, e que o Paço de São Cristóvão fosse uma Versalhes nos trópicos.
E por que tanta mentira ? Para que tentavam distorcer os fatos?
Não vemos outra explicação, que não a de encobrir seus próprios excessos. Tinham este defeito nefasto de jogar todos os defeitos e vícios nas costas dos outros. Eles não, eram puros e imaculados, e seus ideais estavam acima do bem e do mal. Será?

terça-feira, 14 de julho de 2009



Marechal Deodoro, proclamou a República e quase dobrou seu salário.
D. Pedro II, o imperador econômico.
Carlos Gomes, artista, esquecido pela República.



O IMPERADOR ERA MAIS ECONÔMICO

A afirmação acima vem reforçar a idéia de que no império a manutenção da família imperial, era muito mais barata do que a manutenção da presidência da república.
Cabe aqui ressaltar não se tratar-se de mera economia de dinheiro para o erário público, a grande diferença esta nos aspectos morais dos líderes da nação nos dois tipos de regime. No período imperial, no Brasil, o imperador era o primeiro a zelar pelos gastos públicos em geral e particularmente sobre as dotações que a família real recebia.
Para clarear um pouco a questão basta citarmos o fato que de 1841 a 1889, a dotação da família imperial, permaneceu inalterada: 800 contos de réis por ano. E o imperador não utilizava esta verba só para sua família ou a manutenção dos palácios, mas subvensionava grandes artistas como Carlos Gomes, Victor Meireles, Pedro Américo.
Quanto a Carlos Gomes, graças a pensão que lhe concedia pessoalmente o imperador, pode concluir seus estudos na Itália. Sua obra prima O Guarani, foi estreada no teatro Scala de Milão. Jamais outro compositor brasileiro havia alcançado tamanho sucesso. Uma vez Carlos Gomes declarou : “se não fosse o imperador eu não seria o Carlos Gomes”
Apesar de ter honrado o Brasil com sua obra, Carlos Gomes viu-se privado da ajuda imperial após a proclamação da Republica, que recusou-lhe uma pensão, justamente porque era amigo da família imperial. E ainda tiveram a vilania de convidá-lo para compor o hino da República, o que ele elegantemente recusou em honra ao seu protetor destronado. Isso apesar do orçamento geral do império ter crescido enormemente. (de 15000 contos de réis em 1841 para 150 mil contos em 1889). Curioso é notar que um dos primeiros atos da República foi ode fixar para o Marechal Deodoro um salário de 1400 contos de réis.
Vejamos um outro exemplo da diferença de gastos nos dois regimes: as viagens . Diz-se que os governantes são grandes passeadores. A julgar pelos presidentes de nossa República a afirmação não poderia ser mais correta. Mas comparemos alguns dados e o leitor, pausadamente poderá refletir e tomar suas próprias conclusões.
D. Pedro II, fez três viagens internacionais. Pagou-as de seu próprio bolso. Na primeira vez (1871) que viajou ao exterior, ao conceder a Assembléia Geral a necessária licença, o deputado Teixeira Jr. Propôs que a Assembléia liberasse uma verba de 2000 contos de réis para a viagem do imperador; o deputado Melo Morais discordando, propôs 4000 contos de réis, e um aumento da dotação da princesa Isabel, pois ia assumir o Regência. Veja o leitor o bilhete que escreveu D. Pedro II ao ministro do Império João Alfredo Corrêa de Oliveira:
“Espero que o ministério se apresse em fazer desaprovar quanto antes semelhantes favores, que eu e minha filha rejeitamos. Respeito a intenção de todos; mas respeitem também o desinteresse com que tenho servido a nação.”
E tem mais, quizeram que um navio de guerra escoltasse uma comitiva de outros três navios para levar o imperador a Europa, mas D. Pedro II foi mesmo em um simples navio de carreira. É como se hoje o presidente da República pegasse um avião no aeroporto de Brasília e viajasse, sentadinho no corredor de um avião comum, esperando como todo mundo, se submetendo a todos os procedimentos como qualquer cidadão comum.
Mas se o leitor não quer acreditar vejamos um exemplo republicano. O presidente José Sarney, em cinco anos de mandato fez 34 viagens internacionais, passando 124 dias fora do país. Levou nestas viagens 2020 convidados, só na viagem para o bicentenário da Revolução Francesa, Sarney utilizou-se de dois boeings para seu convidados, além de um DC-10 para seu conforto pessoal. Com essa gente toda a se divertir a valer nos hotéis mais caros de Paris, ninguém pois a mão no bolso, tudo foi pago pelos cofres públicos, o cidadão arcou até com as lembrancinhas.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

MENTIRAS REPUBLICANAS




Muitos leitores talvez torçam os narizes quando se fala em D. João VI, D. Carlota, D. Maria I. Nada mais compreensível. Afinal são mais de cem anos de propaganda republicana e como qualquer estudante de primeiro ano de história sabe, a versão oficial dos fatos é sempre a versão dos vencedores.
Proclamada a república , os novos poderosos de plantão trataram de reinterpretar os fatos e personagens de nossa história e dar sua versão sobre os fatos. Não se cansavam de criticar o antigo regime, acentuando bem as cores do que lhes parecia avesso aos seus interesses.
Desta forma os republicanos não se cansam de mostrar D. João VI como um poltrão devorador de frangos e que no Rio de Janeiro não fazia outra coisa que não cochilar e comer. A mãe, D. Maria I, o filho D. Pedro, a esposa D. Carlota Joaquina, todos são apresentados como um bando de degenerados que movidos pelos mais torpes apetites desprezavam a terra e a gente brasileira. Esta história da tomada das melhores residências para ali se alojar a nobreza portuguesa, ( lembram-se do PR afixado nas casas requisitadas que o povo lia como Ponha-se na Rua ?) pois é esta história é contada e recontada pelos republicanos como exemplo inatacável do caráter distorcido da realeza e do império.
Não se trata aqui de fazer uma análise psicológica das personalidades de D. João VI e da família real, nem de se justificar arbitrariedade cometidas no calor do momento da chegada da família real ao Brasil. Não. Definitivamente não. O que queremos é alertar ao leitor que a crítica por parte dos republicanos, que parecem estar investidos da maior pureza de caráter e de ideais acima do bem e do mal, Como se seus atos estivessem acima de críticas e reprimendas.
Quando ao caráter moral dos governantes no regime presidencialista, torna-se dispensável qualquer comentário. Basta abrir qualquer manual de história, e la encontraremos o perfil clássico de psicopatas.


Brasão da Família Martino

Regimes Políticos, Formas e Sistemas de Governo


REGIME, FORMA E SISTEMA DE GOVERNO

Parece complicado, e creio que não só parece como é. O fato é que desde os primórdios da humanidade, quando o homem começou a se organizar em comunidade maiores, surgiu a necessidade de líderes e de governos que impedissem a anarquia. Infelizmente, apesar dos nossos desejos, não podemos prescindir da presença do Estado. Imaginem se cada um fosse viver a seu bel prazer, sem regras comuns de convivência, sem leis, nem mecanismos de fazer com que os homens as crumprissem ? Creio que nossa espécie já estaria extinta há muito tempo. O fato é que ao longo dos séculos o homem organizou o Estado e as diferentes formas de governo para evitar que cada um vivesse por seus próprios critérios, ou o pior, sob nenhum critério.
Ao longo deste processo evolutivo a história nos apresenta as diversas maneiras pelas quais os homens se organizaram para viver em comunidades. Há séculos, filósofos e, modernamente, cientistas sociais estudam as formas de organização do poder. Essas diferentes formas são classificadas com três critérios fundamentais: a origem, a distribuição e o controle do poder.
Assim dependendo das fontes de legitimidade das principais funções políticas e de quem as exerce, de como as diferentes funções políticas estão distribuídas e de como o exercício do poder é controlado, classificamos diferentes regimes políticos e distintas formas e sistemas de governo.




Regime político

A grosso modo um regime político caracteriza-se pelas regras e instituições que regulam a disputa pelo poder político e o seu exercício entre os cidadãos ou grupos sociais. A história registrou dois tipos básicos de regimes políticos:
A) Regimes autocráticos
B) Regimes democráticos
A) As autocracias são regimes onde o poder político reside em uma única pessoa. Existem três fontes de legitimidade para regimes deste tipo:
a divindade e a religiosidade, quando o titular do poder político é considerado o representante divino que tem a missão de guiar e proteger seu povo;
a força e a inteligência “sobre humanas”, normalmente atribuídas aos chefes militares; as doutrinas político ideológicas, que atribuem ao chefe de organizações políticas o poder de dirigir e proteger seu povo.
As democracias são regimes políticos onde a origem do poder esta no povo, no cidadão. A distribuição do poder e o controle do seu exercício, também estão nas mãos do povo. Todos os membros da sociedade tem iguais direitos políticos. É esse valor político que constitui a soberania popular, base da organização de um regime democrático.

Forma de governo

Existem duas formas de governo : a monarquia e a república.
A monarquia se define pela existência de uma Casa real, instituição que constituí-se de uma família, guardiã das tradições culturais e históricas da sociedade. A Casa real tem obrigação moral e política de proteger o país, a nação e o seu povo. Para a côroa exercer essa função pertence a ela a direção geral do Estado. O chefe da família real é o chefe de Estado.
A república é uma forma de governo onde nenhuma família ou indivíduo é o guardião das tradições da sociedade. A função de guardião do país pertence ao Estado, que é uma organização pública. Para que o Estado exerça esta função é necessário que alguém assuma sua direção.
Além da função de chefia de Estado, tanto as monarquias quanto as repúblicas existe uma outra função fundamental: governar o país.

Sistemas de governo
Existem duas formas para a organização dos governos nos diferentes países, são elas denominadas sistemas de governos
Existem três sistemas de governo:
A) Monocrático
As funções executivas e legislativas estão sob a tutela de um chefe supremo (religioso, militar, de um partido)
B) Parlamentarista
C) Presidencialista
Nos governos parlamentaristas as chefias de Governo e Estado estão separadas. O rei ou o presidente (conforme a forma de governo)é o chefe de Estado, e o Primeiro Ministro é o chefe de governo. A fonte de legitimidade do governo esta no parlamento, eleito pelo povo. A população elege seus representantes (deputados), e os partidos que obtiverem a maioria irão constituir o governo.
No presidencialismo a chefia do Estado e de governo estão na mesma pessoa. A fonte de legitimidade decorre diretamente do eleitorado.
Governo presidencial significa governo organizado autonomante pelo presidente e chefiado por ele, governo parlamentar significa governo organizado pelo parlamento e chefiado por um parlamentar, aceito pela maioria dos deputados.

Parece-nos desnecessário discutir as vantagens do regime democrático sobre o autocrático. É a evolução natural dos regimes de governos levam a estas conclusões. Quanto a isto não há discussões.
Agora quanto a questão da forma e sistema de governos que um país deve adotar, creio que há espaço para reflexão e discussão.
Ao adotar a forma republicana, os novos líderes políticos, apesar da promessa de um plebiscito, acharam que a república presidencialista era a forma que mais convinha ao Brasil. Todas as outras formas de governos eram vistas como inadequadas ao desenvolvimento do país, e os defensores da monarquia eram logo tachados de reacionários e saudosistas de uma forma de governo que já tinha dado o que tinha de dar.
Logo começou-se falar na clausula pétrea, isto é a constituição do Brasil republicano, nem aceitava discutir democraticamente a forma de governo, quem discordasse que sofresse as penas da lei.
A tal clausula pétrea que os republicanos logo trataram de colocar na Constituição, impedia a organização de partidos monarquistas, bem como a organização nos termos da lei de agremiações ou associações que defendessem esta forma de governo.
Vale ressaltar que no segundo reinado, os republicanos tiveram toda a liberdade para expor suas idéias, organizarem-se em partido político, realizarem congressos. A liberdade de pensamente estava garantida, e encontrava em D. Pedro II um forte defensor.
É de estranhar que esta gente, que gozou de todas estas prerrogativas, quando assume o poder, proíbe qualquer forma de organização de um partido monárquico.


AS ORIGENS DO SISTEMA
MONÁRQUICO NO BRASIL

A princípio podemos dizer que o regime monárquico no Brasil se inicia antes mesmo da criação do país como Estado independente em 1822. Os reis potugueses, eram também soberanos de suas terras de além mar. Assim os colonos do Brasil eram os súdito americanos do rei de Portugal. Ficam desta forma nulos de sentidos as afirmações de muitos republicanos de que o regime monárquico no Brasil era “uma flor exótica”. Se atentarmos bem a realidade dos fatos, chegaremos a conclusão de que o único regime de governo que o Brasil conheceu em seus primeiros 389 anos de existência foi o regime monárquico.
Paulo Napoleão Nogueira da Silva, em seu livro Monarquia: verdades e mentiras afirma: “ A noção de império importa em três elementos: A transcendência de povos e territórios, separados por heterogeneidade ou grandes distâncias, sua união e solidariedade em torno de uma autoridade e um destino comuns, e a manutenção de suas individualidades. O império não é uma só nação. É um Estado enquanto ordem jurídica, que congrega num destino comum diversas nações. Essa noção, os portugueses sempre tiveram.”
A transferência da sede da monarquia portuguesa para o Brasil em 1808, cria uma situação nova. Com a transferência de D. João VI e de toda a família real para o Rio de Janeiro, vieram para o Brasil toda a organização do Estado português. A abertura dos portos brasileiros as nações amigas, primeiro ato de D. João VI no Brasil, pôs fim de uma vez por todas ao regime colônial. A independência política era uma questão de anos.
Começava assim o descontentamento por parte dos portugueses com a nova situação. Até a transferências da Corte para o Brasil, o comércio internacional de Portugal se realizava principalmente com o Brasil. Além de consumidor, Portugal era o entreposto de todo o comércio exterior da colônia.
Ganhavam os navios portugueses com os fretes marítimos, as alfândegas, com as importações dos produtos coloniais e a exportação das manufaturas estrangeiras para a colônia. Ganhavam os comissários portugueses com o armazenamento e revenda dos produtos. Todo este esquema desmoronara com a abertura dos portos.
A crise em Portugal, afetava além dos setores mercantis, todo o sistema produtivo tanto na manufatura como na produção agrária. Era uma crise de caráter internacional, relacionada a revolução industrial em curso na Inglaterra o que tornava Portugal cada vez menos competitivo.
Para os portugueses, toda esta crise tinha uma única explicação: a permanência da família real no Brasil e a quebra do pacto colonial.
Há que se ressaltar que a idéia de se transferir a sede da monarquia portuguesa para o Brasil, vinha sendo ventilada há muito tempo. Segundo João Ameal, em seu livro História de Portugal “ a idéia vem, aliás de longe. Faz parte do nosso patrimônio histórico e é trazida ao lume nas ocasiões graves e melindrosas. Há quem sugira a D. Antonio, prior do Crato, em 1580, para se subtrair à invasão espanhola do duque de Alba e transportar além atlântico o fogo sagrado da independência pátria; da o padre Antônio Vieira a D. João IV o mesmo conselho num lance dúbio da guerra da Restauração; com temor da Espanha, pensam Pombal e Dom Luís da Cunha, na ida de D. José para o Rio em 1762. Em 1803 advoga calorosamente igual solução D. Rodrigo de Souza Coutinho...Enfim já em 1807, o conde da Ega, embaixador em Madrid, refere-se diretamente a possibilidade de tal medida e Tomás Antonio de Vila Nova Portugal, quer que pelo menos Dom Pedro, ainda príncipe real, parta para o Brasil.”
Ainda nos primórdios da colonização do Brasil, quando Martim Afonso de Souza retornava de sua viagem à sua capitania de São Vicente, em conversa com D. João III, este perguntou-lhe o que achava da transferência da corte para a colônia, ao que o primeiro respondeu “ doidice seria viver um rei, na dependência de seus vizinhos, podendo ser monarca de outro maior mundo” in Monarquia: verdades e mentiras p. 217.
Mas no final do século XVIII a situação na Europa se modificava rapidamente. Napoleão Bonaparte celebrara com a Espanha o tratado de Fontainebleau, que na prática extinguia o Estado português como nação soberana e o dividia em pequenos principados, a serem entregues a seus familiares ou aliados do momento. A família real portuguesa passaria a viver confinada na França. O futuro para D. João VI era cada vez mais incerto e duvidoso.
A Inglaterra, velha aliada de Portugal, aconselhava a D. João VI a que partisse para suas terras americanas, não só para preservar a continuação do Estado português, mas para salvar o Brasil de uma eventual ocupação francesa. A Inglaterra mandou a Portugal vários diplomatas com o intuito de convencer o principe regente, dentre eles Lord Rosslyn e o almirante Jervis. D. João a início procurava evitar tal solução, até que sentindo-se pressionado por ambos os lados decide tomar um decissão em 2 de outubro de 1807: enviaria ao Brasil o jovem D. Pedro, então príncipe da Beira, lançando um manifesto aos brasileiros, recomendando o filho, que viria com o título de Condestável do Brasil. Quem parece não ter gostado muito da solução de D. João foi Dona Maria I, que mesmo em seu estado de demência teria dito: “ou vamos todos, ou não vá nenhum.”
O fato é que quando tudo estava pronto para a partida de D. Pedro para o Brasil, D. João mudou de opinião e decidiu que iriam todos juntos.
No dia 22 de novembro de 1807 chega a Lisboa a esquadra do almirante Sidney Smith bem como o ministro Lord Strangford que põe D. João diante de duas alternativas:
1) partir imediatamente para o Brasil levando toda a cúpula do Estado português
2) Ficar em Portugal e sujeitar-se aos caprichos de Napoleão.
Se ficasse perderia o Brasil para os franceses, ou até mesmo para os ingleses, se partisse perderia o território português mas salvaria o Brasil.
D. João finalmente decidiu-se, reunindo-se com com seu Conselho de Estado, que aprovou a viagem.
Com a vinda da família real para o Brasil, iniciava-se um nova fase para o nosso país, e o regime monárquico lançava profundas raízes nas terras férteis deste país continente.

sábado, 11 de julho de 2009

Uma grave crise assola o Brasil. O país se afunda cada vez mais num mar de corrupções, falcatruas, irresponsabilidades. O cidadão observa passivamente a completa desintegração de um regime político instaurado no Brasil em 1889: A República.
Teria a forma de governo de um país alguma diferença no desenvolvimento de uma nação?
A opção pela República presidencialista, o parlamentarismo monárquico, ou o parlamentarismo presidencialista são indiferentes para o bom andamento das instituições democráticas?
Com a derrubada da dinástia dos Braganças em 1889, o presidencialismo adotado no Brasil, segundo o modelo norte americano, foi a melhor escolha?
Seria a República presidencialista o único regime aceitável para um país como o Brasil? Estariamos condenados a aceitar passivamente estes governos que tem se locupletado em toda sorte de negociatas e atividades espúrias ao longo de mais de um século?
Cremos que não.
O golpe de estado que derrubou a monárquia no Brasil, não deve ser tido como definitivo. O regime presidencialista, como já disse, copiado do modelo norte americano, tem apresentado problemas há mais de cem anos. Vale ressaltar que a forma de governo escolhida com a queda da monarquia no Brasil,,não foi, como propalavam os republicanos, uma evolução natural, inquestionável, a qual não cabem discordâncias, questionamentos, nem dúvidas sobre a sua continuidade ou não. Foi antes de tudo uma escolha política dos diferentes grupos que participaram do golpe de 1889.

GRUPOS QUE DERRUBARAM A MONÁRQUIA NO BRASIL